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O que é Psilocybe Cubensis?

Psilocybe cubensis (anteriormente designada por Stropharia cubensis) é uma espécie de cogumelo enteógeno, mundialmente conhecido, que apresenta como principais princípios ativos a psilocibina e a psilocina, que agem no cérebro de modo semelhante ao neurotransmissor serotonina, embora possua em baixas quantidades outros alcalóides, como a norbeocistina ou a beocistina, cuja ação no sistema nervoso humano é pouco conhecida. São cogumelos de pequeno porte, geralmente apresentando características que os tornam facilmente reconhecíveis.




HISTÓRIA


O registro histórico oficial mais antigo que existe a respeito do uso de cogumelos sagrados é uma pintura de mais ou menos 12 mil anos atrás encontrada em uma caverna na Austrália. Existem registros de uso de cogumelos nas populações pré-históricas em todos os continentes habitados. Muitos estudos consideram a evolução do cérebro humano paralela ao uso de cogumelos, mas por ser um costume ancestral é quase impossível apontar sua origem exata.


Maias, Incas e Astecas cultuavam Deuses e lendas baseadas em plantas e cogumelos mágicos e poderosos. A conexão com o estado de espírito elevado era tão profunda que o povo asteca se referia aos cogumelos como “teonanácatl”, que significa “A carne dos Deuses” e o consideravam o presente fundamental da própria vida. Se reuniam com freqüência para comer a “carne dos deuses” , riam, cantavam, choravam e dançavam, depois partilhavam fraternalmente suas experiências e visões.


Na Grécia antiga a adoração á Deusa Deméter (deusa da colheita, fertilidade, da terra cultivada e mãe do ciclo da vida e da morte) incluía o consumo de uma bebida originada de algumas substâncias, contendo cogumelos. Já no Egito os cogumelos eram vistos representados em inúmeras formas de arte, como; estátuas, esculturas, palavras e termos que se referiam aos cogumelos como “filhos dos Deuses” ou “comida dos Deuses”. Os egípcios acreditavam que os cogumelos sagrados, por não brotarem de sementes, eram colocados na terra pelo próprio Osíris, Deus da vegetação, do além e do julgamento.


Diversas pessoas dedicaram suas vidas para o estudo da relação entre esses fungos e a cultura humana. Como principais destaques, temos María Sabina, considerada a sábia dos cogumelos sagrados. Esta acabou por inserir-se nos rituais tradicionais da cultura americana, e foi uma xamã que contribui grandemente para o crescimento da inserção da cultura do cogumelo na sociedade moderna ocidental. Como personalidades americanas também temos Timothy Leary e Terence McKenna, pais do psicodelismo e do estudo dos princípios terapêuticos do uso de enteógenos na sociedade atual.



TAXONOMIA E NOMEAÇÃO


Os cogumelos Psilocybe cubensis foram descritos e documentados pela primeira vez em Cuba[1] pelo micologista norte-americano Franklin Sumner Earle, o qual deu à espécie o nome de Stropharia cubensis. Em 1907, a mesma espécie foi identificada como Naematoloma caerulescens na região de Tonkin, região norte do Vietnã, pelo micologista e farmacologista francês Narcisse Théophile Patouillard.[2]


Em 1941, a então espécie foi chamada de Stropharia cyanescens por William Alphonso Murrill, na Flórida.[3] Após sucessivas alterações taxonómicas, a espécie foi integrada no género Psilocybe, designação que entrou no léxico comum com o crescimento da popularidade da espécie.


O nome genérico Psilocybe foi derivado das raízes gregas psilos (ψιλος) e kub’ (κυβη), que podem ser traduzidas como cabeça careca. O epíteto específico cubensis, como o próprio nome sugere, significa proveniente de Cuba, local em que os primeiros espécimes do fungo foram catalogadas e descritas por Franklin Sumner Earle.



RITUAIS XAMÃNICOS


É comum que os usuários de substâncias alteradoras da consciência, como a Psilocibina e a Psilocina, relatem que durante o efeito das substâncias, foi comum o surgimento de visões de grande significância para o indivíduo. Tais visões eram tidas para os xamãs e religiosos tradicionais como possíveis predições para o futuro do povo e da cultura local. Bernardo de Sahagún relata em uma de suas viagens uma das cerimônias na qual o cogumelo era utilizado[4]. Nessa, os líderes religiosos distribuíam os cogumelos para os envolvidos na cerimônia, após uma preparação prévia, em que somente eram ingeridas substâncias como o chocolate e o mel. Durante a noite, após o consumo dos cogumelos, os nativos dançavam e entravam em um estado de êxtase, no qual experimentavam as visões.


Quando o efeito dos cogumelos deixava de agir no sistema nervoso, os participantes se reuniam e discutiam as visões obtidas durante a experiência, chegando a um senso comum sobre o que havia de passar durante o próximo período de tempo, adotando como predições de futuro as visões obtidas.


Também é citada pelo autor uma cerimônia denominada “a festa das revelações”, organizada anualmente pelo imperador asteca Moctezuma, em que os cognescentes ingerem cogumelos psicotrópicos[4]. Infortunadamente, os registros de tal ritual foram perdidos, possivelmente pela ação da Igreja Católica, a qual considerava o culto do cogumelo como uma abominação para o cristianismo.


O papel que a Igreja católica desempenhou na destruição dos costumes e rituais xamânicos dos povos nativos, em relação ao uso dos enteógenos, com certeza foi decisivo para o desaparecimento de registros escritos, ou até mesmo para o quase total desaparecimento dos rituais. A ideia de uma expansão da mente, unida à expressões corporais como danças realizadas em um estado de transe, colaborou para que fosse passada uma visão demoníaca do uso dos cogumelos, fazendo com que os fiéis católicos empregassem suas forças na luta contra a disseminação dos cultos xamânicos.



RFERÊNCIAS

  1. ↑ Earle FS. “Algunos hongos cubanos” (em espanhol). Información Anual Estación Central Agronomica Cuba.

  2. ↑ Patouillard NT (1907). “Champignons nouveaux du Tonkin” (in French). Bulletin de la Société Mycologique de France.

  3. ↑ Murrill WA (1941). “Some Florida Novelties”. Mycologia.

  4. Ir para:a b c d e Psilocybin-Mushrooms-of-the-World-An-Identification-Guide-1996.

  5. Ir para:a b The entheomycological origin of Egyptian crowns and the esoteric underpinnings of Egyptian religion, Stephen R. Berlant.

  6. ↑ Tsujikawa K, Kanamori T, Iwata Y, Ohmae Y, Sugita R, Inoue H, Kishi T. (2003). Morphological and chemical analysis of magic mushrooms in Japan. Forensic Science International 138(1-3): 85-90.



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